O vírus de Wuhan 2019-nCoV se tornará uma pandemia?
Como esta espécie de coronavírus afetará a economia?
Por Jair Lemes
Resposta 1)
Já é uma pandemia!!
Resposta 2)
Eu poderia dizer que tem sérios impactos de curto prazo com possível forte e rápida recuperação a médio prazo, e tudo isto, com grandes chances de acertar, mas a verdade é que ninguém sabe ainda!!!
DUAS COISAS explicam por que uma nova doença infecciosa é tão alarmante. Uma é que, a princípio, ela se espalha exponencialmente. À medida que dezenas de casos se tornam centenas e centenas se tornam milhares trazendo à tona especulações sobre um colapso na assistência médica, agitação social e econômica e uma pandemia mortal. O outro é uma profunda incerteza. Dados confusos e relatórios conflitantes significam que os cientistas não podem descartar o pior cenário e isso permite que informações ruins (e as vezes exageradas) se propaguem.
Isto ocorre com este novo coronavírus, conhecido como 2019-nCoV, que atingiu a China. O número de casos relatados aumentou de 282 em 20 de janeiro para quase 7.800 apenas nove dias depois (Dados do “The Economist”).
Tenho percebido alguns resultados de pesquisas alarmantes como de uma universidade americana que simulou 65 milhões de mortes como resultado potencial da epidemia ou agora pandemia.
Quais são as perguntas certas para procurarmos respostas que nos ajudem a entender a situação e seus possíveis resultados?
- O novo vírus se tornará uma doença global?
- Quão mortal será?
Respostas definitivas só serão possíveis daqui a semanas ou meses, mas as autoridades de saúde pública precisam planejar hoje!!
Aparentemente o vírus pode não ser mais letal do que a gripe sazonal, mas isso ainda é considerado grave. No curto prazo, isso afetaria a economia mundial e, dependendo de como o surto é tratado, também poderá ter efeitos políticos na China.
Estima-se que o surto teria seu início na China em dezembro de 2019. Esse vírus provavelmente se originou em morcegos e passou por mamíferos terminando no mercado de Wuhan, onde animais selvagens ficam à venda permitindo contato com humanos. Os sintomas se assemelham à gripe, mas podem incluir pneumonia, que pode ser fatal. Cerca de 20% dos casos relatados são graves e precisam de cuidados hospitalares; cerca de 2% deles foram fatais. Até o momento, não há vacina ou tratamento antiviral.
Muitas pessoas podem ter sintomas tão leves que nem percebem que têm a doença. A modelagem feita por acadêmicos de Hong Kong sugere que, a partir de 25 de janeiro, dezenas de milhares de pessoas já foram infectadas e que a epidemia atingirá o pico em alguns meses. Nesse caso, o vírus é mais disseminado do que se pensava e, portanto, será mais difícil de conter na China. Mas também será menos letal, porque o número de mortes deve ser medido contra uma base muito maior de infecções. Assim como a gripe, muitas pessoas podem morrer.
Na China, isso levou à maior quarentena da história, já que Wuhan e o restante da província de Hubei foram isolados. O impacto de tais medidas draconianas se espalhou por toda a China. O feriado da primavera foi prolongado, mantendo escolas e empresas fechadas. A economia está funcionando com entrega em domicílio de alimentos e mercadorias.
Muitos especialistas elogiam os esforços da China. Certamente, seus cientistas lidaram melhor com o vírus de Wuhan do que com o SARS em 2003, detectando-o rapidamente, sequenciando seu genoma, licenciando kits de diagnóstico e informando organismos internacionais e até mesmo o governo que agiu lentamente, permitindo, por exemplo, a saída de mais de mil pessoas da cidade, porém sendo mais transparente e rápido desta vez (o que não significa), totalmente transparente.
O mundo nunca respondeu tão rapidamente a uma doença quanto a 2019-nCoV. Mesmo assim, o vírus ainda pode causar grandes danos. À medida que os humanos invadem novos habitats, cultivam mais animais, se reúnem nas cidades, viajam e aquecem o planeta, novas doenças se tornam mais comuns. Estima-se os custos destas doenças em US $ 60 bilhões por ano. SARS, MERS, Nipah, Zika, gripe suína mexicana: a febre de Wuhan é a última de um grupo ruim. Não será o último.
O crescimento da China no primeiro trimestre pode cair para apenas 2%, ante 6% antes do surto. Como a China responde por quase um quinto da produção mundial, provavelmente haverá um impacto notável no crescimento global, mas a história demonstra que a recuperação econômica também ocorre rapidamente nestes casos.
Impacto na economia
O ponto de referência óbvio é a batalha da China com o SARS, outro coronavírus, em 2003. O crescimento econômico chinês diminuiu acentuadamente no auge da epidemia, mas se recuperou rapidamente depois que foi contido. Outras epidemias recentes reforçaram a impressão de que os economistas não devem se preocupar excessivamente. O coronavírus SARS foi declarada uma emergência de saúde global em março de 2003 e foi considerada contida em julho daquele ano.
Nem a gripe aviária em 2006 nem a gripe suína em 2009 diminuíram as perspectivas de crescimento global.
Com relação a China, hoje a economia é maior, mas menos dinâmica do que em 2003. Durante o surto de SARS, alguns grandes setores chegaram até a prosperar, enquanto outros lutavam para sobreviver. As exportações subiram 35%. Os gastos em infraestrutura e moradia foram fortes. Hoje, no entanto, o crescimento das exportações é muito mais fraco – apenas 0,5% em 2019. As vendas de imóveis começaram a cair após um longo período de crescimento. E o país tem menos espaço para aumentar seus gastos em infraestrutura, já tendo construído tanto na última década. Nos primeiros dias após o aumento do número de infecções confirmadas neste mês, as ações chinesas caíram cerca de 5%. Eles poderiam cair ainda mais. Durante o coronavírus SARS de 2003, o principal índice de Hong Kong caiu quase 20%.
A parte da economia mais afetada foi o setor de serviços, que representava cerca de 40% do PIB. Hoje, a participação é superior a 50%. Mas os gastos do consumidor podem ser mais resilientes dessa vez, devido ao enorme crescimento da popularidade das compras on-line pois as pessoas podem continuar comprando mercadorias em casa.
A economia Chinesa se recuperou rapidamente após o domínio do antigo coronavírus SARS. No segundo semestre de 2003, havia voltado ao crescimento de dois dígitos. Os consumidores satisfizeram sua demanda reprimida por tudo, de carros a cerveja. Mas à medida que a crise atual cresce, a realidade sombria do presente é tudo o que muitas pessoas estão contemplando.
A preocupação é menos com a gravidade do vírus, que parece menos letal que a SARS, mas com a natureza e a duração potencial dos esforços da China para controlar o surto. E as perturbações na China, a segunda maior economia do mundo, têm consequências globais. O Banco Mundial estimou que até 90% dos danos econômicos causados pelas epidemias decorrem do medo das pessoas de se associarem com outras pessoas, o que leva o fechamento de escritórios e lojas. Na China, isso está sendo ampliado pela política do governo de isolar áreas afetadas e limitar o contato interpessoal em todo o país.
Hubei, a província que foi isolada, gera 4,5% do PIB da China, então o fechamento deixará um buraco. Em outras localidades onde o isolamento não é mandatório as pessoas evitam se encontrar aumentando este buraco.
A primeira onda de impacto econômico do vírus ocorre em um momento delicado. As empresas ocidentais ajudaram, através de transferência cultural, a converter as festividades do Ano Novo Lunar do final de janeiro em uma estação de compras com pechinchas (a exemplo da Black Friday), a ponto de se tornar um período essencial para o crescimento econômico na China. Este ano, está tão moderado que o crescimento do consumo no primeiro trimestre diminuirá mais da metade na China, em relação à taxa de crescimento de 5,5% registrada nos últimos meses de 2019, de acordo com a Bloomberg Economics.
Em torno de 11.000 cinemas foram fechados na principal semana do ano para esta indústria na china. Ainda não se sabe como as pessoas voltarão a trabalhar juntas em escritórios e estabelecimentos comerciais e como e se as pessoas que vivem em localidades diferentes voltarão as suas cidades para trabalhar.
Uma diferença crucial em comparação com o SARS é a importância da China para o resto do mundo. Em 2003, a China gerou 4% do PIB global. No ano passado, foram 16%. A desaceleração do consumo e a interrupção da produção não param nas suas fronteiras.
A China é o maior mercado internacional de viagens internacionais de saída e o turismo de chineses deve afetar muitas outras regiões.
A Starbucks fechou temporariamente mais da metade de seus 4.292 cafés na China.
As vendas de máscaras são, de fato, um raro ponto positivo para empresas como a 3M.
As muitas empresas que dependem da manufatura chinesa precisam fazer pedidos em breve para ter produtos prontos para a temporada de pico das compras que inclui a volta as aulas no Ocidente.
O fechamento de fábricas cairá em cascata pela economia global. Wuhan é um centro de fabricação, especialmente para automóveis. Nissan, Honda e General Motors têm fábricas lá. A Bloomberg classifica Wuhan em 13º entre 2.000 cidades chinesas por seu papel nas cadeias de suprimentos. Uma empresa local, a Yangtze Optical Fiber and Cable, é a maior fabricante de fios que transportam dados em todo o planeta.
O surto também terá um impacto abrangente no setor de tecnologia, com a China representando cerca de 21% dos gastos globais com hardware de TI, escreveram analistas da Bloomberg Intelligence em 29 de janeiro. Alguns dos maiores fabricantes de PCs e fornecedores de peças estão baseados na China, e se houver uma desaceleração nas vendas, isso restringiria a demanda pelo software do sistema operacional Windows da Microsoft.
Mais de 50% dos mais de US $ 470 bilhões em chips vendidos a cada ano são usados em dispositivos vendidos na China ou vão para lá para serem comercializados em todo o mundo.
A Apple tem cerca de 10.000 funcionários diretos na China e sua cadeia de suprimentos possui alguns milhões de trabalhadores fabricando produtos
As ações da Foxconn, que fabrica telefones para a Apple, caíram 10%.
Alguns são vitais; aproximadamente 80% dos ingredientes ativos de todos os medicamentos são provenientes da China. Outros são menos.
O vírus é um lembrete poderoso de que, à parte a política, uma base diversificada de fornecedores é uma boa apólice de seguro.
Impactos na Economia global
Os maiores efeitos indiretos seriam sentidos em Hong Kong, seguidos pela Coréia do Sul e pelo Japão, ela escreveu. A Alemanha e o Japão podem ter um impacto de 0,2% sobre o PIB, enquanto os EUA e o Reino Unido absorverão um golpe de 0,1%.
No Brasil:
A China tem o segundo maior PIB do planeta, e uma desaceleração em sua economia acaba afetando o mundo inteiro – com efeitos, por exemplo, sobre os países que dependem muito das exportações para o país asiático, como o Brasil.
As bolsas globais começaram a semana em queda. O preço do barril de petróleo caiu abaixo de US$ 60 pela primeira vez em quase três meses.
O coronavírus afetou o dólar e as projeções para a taxa básica de juros (Selic), e ainda pode pressionar a inflação. A moeda americana chegou a R$ 4,20 no início da semana, maior patamar desde 2 de dezembro. E se antes o mercado se concentrava na aposta de que a Selic se manteria em 4,5%, já há quem preveja um corte de 0,25 ponto porcentual em breve.
Empresas brasileiras com ações no Ibovespa perderem cerca de R$ 50 bilhões em valor de mercado. Vale, Petrobrás, Gerdau, CSN e Suzano, grandes produtoras brasileiras de commodities, tiveram seu valor reduzido em R$ 42,3 bilhões. Segundo a agência Bloomberg, as bolsas globais perderam, ao todo, US$ 1,5 trilhão por causa do avanço da pandemia, mesmo com as bolsas da China e do Hong Kong fechadas por causa do feriado prolongado local do Ano Novo Lunar. Devido ao receio de que a doença afete o mercado chinês, assim como a atividade industrial e a construção no país, houve queda no preço do petróleo e de minérios como cobre e ferro. Houve também forte desvalorização no yuan.
A aversão ao risco no mercado acaba gerando inflação no ativo livre de risco – títulos do tesouro americano e, consequentemente, o dólar. O dólar muito alto gera inflação. Muitos produtos que consumimos são negociados em dólar, o que acaba encarecendo o produto final impacta inflação no curto prazo.
Nesta terça (28), os mercados ficaram um pouco mais “calmos”, diante das medidas tomadas pelo mundo, em especial a China, para conter a disseminação do vírus. As bolsas no Brasil, Estados Unidos e Europa se recuperaram e a maior parte fechou com tímidas altas. Na Ásia, por outro lado, as baixas persistem.
É difícil projetar como o surto pode afetar a economia daqui para frente, em especial no longo prazo. Não existe uma ‘regra’ para como o mercado reagirá às epidemias e o motivo é simples: existem outras diversas variáveis que afetarão os mercados e estas não podem ser confundidas com o efeito do vírus.
Supondo que aumente a amplitude da contaminação, levando à redução dos fluxos de pessoas e mercadorias da China com o resto do mundo, a economia chinesa teria uma desaceleração em sua taxa de crescimento. Se ocorrer, isso impactaria fortemente as exportações do Brasil, naquilo que o país tem de mais dinâmico hoje, que são as commodities. Além das empresas ligadas ao setor de commodities, empresas de aviação, serviços de viagens e itens de luxo estão entre os setores que podem ser impactados negativamente, caso o surto se prolongue. Petróleo também é um item.
Algumas projeções indicam que exportações brasileiras podem cair mais de 3,5% em 2019.
As empresas brasileiras que exportam para a China terão um mercado menor para exportar, e essas empresas tendem a não crescer.
A paralisação de grande parte das atividades na China (e em algumas regiões na Ásia) posterga ou reduz a recuperação esperada para este início de ano na economia brasileira com tendência de recuperação para o segundo semestre.
Outra tendência é de que os combustíveis fiquem mais baratos, desde que a desvalorização do real – também consequência da epidemia – não seja mais forte que a desvalorização da cotação do petróleo.
Alguns investidores já enxergam a situação atual como uma oportunidade de compra de ativos uma vez que acontecimentos anteriores similares não significaram movimentos de vendas prolongados e em algumas semanas se mostraram como oportunidades de compra.
O Ministério da Saúde declarou situação de risco iminente no Brasil, onde o medo da doença já é sentido e há nove casos suspeitos de infecção pelo coronavírus
Alguns desses vírus que atacam o sistema respiratório são sazonais e, numa perspectiva otimista, pode estar ocorrendo um pico de contágio para depois haver uma pausa, talvez na mudança de estação, o que ainda está distante.
O medo da doença já pode ser sentido no Brasil, onde o Ministério da Saúde declarou situação de “perigo iminente”. Os hospitais locais se preparam para um surto de coronavírus. “Houve 33 notificações, mas os nove casos que se enquadraram na definição de suspeitos são de pessoas que viajaram para a China. Nenhum foi de pessoa que teve contato com outro suspeito. Os principais sintomas do 2019-nCoV, também chamado de “gripe de Wuhan”, são febre alta, dores no corpo, tosse e falta de ar. Nos casos mais leves ela se assemelha a um resfriado, mas, nos mais graves, a doença leva à pneumonia e à insuficiência respiratória aguda, causando óbito.
De um modo geral, se considera que o 2019-nCov é menos letal, mas mais contagioso que seus antecessores, embora seu longo período de incubação ainda não permita conclusões definitivas. Ele é muito mais para perigoso que o H1N1, chamado de gripe suína. Ao que tudo indica, pela velocidade de transmissão, é um vírus extremamente contagioso. Por ser novo, ele pega o sistema imunológico desprevenido e não há tempo para produção de anticorpos”.
Cerca de 80% do material genético do 2019-nCoV é idêntico ao do coronavírus da SARS e isto facilita a contenção do mesmo através inclusive da produção de vacinas.
O 2019-nCoV é a sétima cepa de coronavírus já encontrada em seres humanos.
“O que sabemos sobre o que vai acontecer é que ninguém realmente sabe ainda.”
>> Assista a entrevista de Jair Lemes no programa de Bem com a Vida da Rede Gospel de Televisão:
*Errata: Gripe espanhola ocorreu em 1918